sexta-feira, 7 de setembro de 2007

03 - INTRODUÇÃO


Ao tentar resgatar as tradições e os valores culturais de Campos dos Goytacazes, o pesquisador se depara com uma quantidade infinita de possibilidades. E muitos deles procuram voltar no tempo e traçar a história do município desde o Brasil-Colônia, passando pela Capitania Hereditária de São Tomé, até os dias de hoje. E nessa linha do tempo, o pesquisador encontra diversos traços marcantes para uma boa pesquisa.
Desde a história da exploração açucareira, dos seus casarios, passando pelos fatos significativos na vida do município, as pessoas que notadamente entraram para a história deste país, bem como aquelas que ficaram para sempre no folclore quotidiano regional, além das lendas e histórias fantasiosas, o chuvisco, alvo desta pesquisa, é um dos segmentos que fazem parte do folclore do município. Pois cada cidade e região deste país se apresentam com um tipo de prato característico, diante das circunstâncias e abundâncias do local.
O chuvisco, que deu fama ao município, na verdade não foi criado aqui. Ele é um doce da culinária portuguesa, e foi trazido quando a Família Real Portuguesa foi obrigada a deixar aquele país, para refugiar-se no Brasil. Era o doce preferido de D. Pedro I. Mas os detalhes sobre o quotidiano da Família Real Portuguesa, bem como das suas preferências gastronômicas eram mantidos em segredo dentro do palácio, e quase nada vazava para a Côrte.
Até que um dia, Mulata Teixeira, uma das doceiras mais famosas de Campos, ganhou a receita de uma pessoa que viera do Rio de Janeiro, e após inúmeras tentativas conseguiu encontrar o ponto do doce que, posteriormente, foi ensinado e passado através das gerações, para outras mulheres da nossa terra.
Com o tempo, algumas mulheres dominaram o conhecimento do ponto ideal tanto da massa como da calda, e eram procuradas por diversas famílias que desejavam enormes quantidades deste doce, para saborearem após os almoços dominicais, ou nas grandes festas.
A partir daí, algumas doceiras ganharam fama, e por terem uma boa clientela, tiveram condições de abrir e expandir seus próprios negócios, como Maria Eugênia de Moraes e Souza, proprietária da M. Eu... Doce. As outras doceiras, que faziam apenas para agradar alguns clientes, mas não possuíam capital, se uniram e criaram, em 1989, a Cooperdoce, a única cooperativa de doceiras do Brasil, fundada apenas por mulheres, conforme consta no livro de cooperativas. E o seu prédio é ponto turístico de gastronomia em diversos guias, como o Guia Quatro Rodas, da Editora Abril Cultural.
Com a chegada de um campista, Anthony Garotinho ao Palácio Guanabara, o chuvisco ganhou uma projeção muito maior na mídia brasileira, principalmente quando começaram a aparecer diversos escândalos de subornos e golpes financeiros contra os cofres públicos do Estado do Rio de Janeiro. Seus assessores, e principais envolvidos nos escândalos foram batizados de “Turma do Chuvisco”, ou “República do Chuvisco”.
Mas, se alguém pensa, que este termo pejorativo dado pela mídia ao doce, foi péssimo para os negócios, receberá da atual presidente da Cooperdoce, Vera Louback, uma resposta surpreendente:

depois desses escândalos, a procura pelo doce aumentou, e recebemos inúmeros turistas em nossa sede querendo saborear o chuvisco.

Além disso, ela informou que:

o chuvisco, que também é conhecido como “pingo de ouro”, a ambrosia, o papo de anjo e os fios de ovos, são doces produzidos com o mesmo tipo de receita, e também são originários de Portugal.

A respeito das variedades deste doce, Vera Louback também cita as variações criadas pelas doceiras:

inúmeras são as variedades deste doce, desde a mais conhecida em calda, até aquelas que foram criadas e testadas pelas doceiras para os paladares mais exigentes. Como por exemplo, o chuvisco cristalizado, em calda com nozes, em calda com passas, chuvisco caramelado, chuvisco com calda de chocolate, e mais recentemente os chuviscos cristalizados coloridos.

Fala também dos ingredientes da receita, e um dos segredos na arte de fazer o chuvisco:

no início as doceiras utilizavam o Creme de Arroz, como produto principal para fazer a massa, mas hoje em dia, com o custo elevado desse produto, as doceiras estão utilizando uma mistura do Creme de Arroz, com um trigo de boa qualidade, e mesmo com essa mistura o chuvisco não perde o sabor tão característico, e as doceiras ainda ganham na quantidade, pois uma caixinha de Creme de Arroz, não dá para fazer uma quantidade muito grande do chuvisco.

Quanto à produção e a quantidade de chuviscos fabricados diariamente na cooperativa, acrescenta que:

Cada receita na cooperativa produz 800 chuviscos, independente da quantidade de ovos. Uma doceira chega a fazer três receitas diariamente o que dá um total de 2.400 chuviscos por dia. Em uma semana, a quantidade média é de 12.000 chuviscos, e em um mês a média produtiva é de 48.000 chuviscos. É claro que não temos uma doceira exclusiva para fazer chuviscos, e com as dificuldades financeiras e operacionais nós fabricamos chuviscos três vezes por semana num total de 7.200 chuviscos. Em um mês a nossa produção é de 28.800 chuviscos.

A respeito da industrialização do chuvisco ela contou que:

o chuvisco, que até ontem era um doce eminentemente artesanal, hoje é produzido em larga escala no município por três empresas: a Cooperdoce, a Doces Nolasco, a Doces Caseiros Boas Novas e também pelas principais docerias do município, como a M. Eu... Doce, e a Marry & Quel.

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